Um ensaio sobre a felicidade – por Fábio Silvério

No mundo do ask encontramos pessoas valorosas no Caminho e que, em certos momentos, nos ensinam, (re)lembram ou fazem raciocinar sobre coisas, aparentemente, banais.

A maioria quando se pergunta sobre a felicidade, deixa passar batido. Eu a considero um momento, ou seja, são momentos, não um estado fixo ou um status a se buscar, mas Fábio foi além: de onde ela vem, porque cada vez mais alguns as perdem ao envelhecer e qual a real importância disso?

Eis abaixo o pensamento do mesmo, mui rico em análise e também com uma lição singela, talvez a melhor que já li na vida.

Só termino minha parte vos lembrando do início dele: ‘Isto é uma coisa que exige atenção. Aliás, TUDO EXIGE ATENÇÃO.’

Lembrem-se disso para SEMPRE, dêem atenção a TUDO nas suas vidas, ‘gastem’ suas energias questionando e entendendo o Universo e a si mesmos e serão, pelo menos, felizes quando a vida lhes entregar algumas respostas ‘de mão beijada’ só porque quiseram refletir acerca. A reflexão é nossa maior arma e nossa maior bandeira de paz.

Obrigado, Fábio, e a vocês, eis o texto:


http://ask.fm/FabioPauper/answer/128759120810

Agora nos responda: como é a sua felicidade?

Isto é uma coisa que exige atenção. Aliás, tudo exige atenção. Daí a importância da contemplação.
Todos nós – com exceção dos que tiveram um passado muito traumático -, temos saudades da infância. Quando eu estava saindo da infância e a caminho da adolescência, eu via de modo muito claro que estava deixando algo muito bom e indo para um estágio em que aquilo não iria estar. Era muito patente pra mim. Quando nós somos crianças, a gente está mais disposto à felicidade, e talvez seja por isso que esta se torna uma das condições para adentrar no Reino dos Céus. As crianças de hoje têm muito menos disso, penso eu.
Uma criança geralmente é simples, e deseja os seus modestos bens de um jeito muito humilde. E como tudo é muito novo para ela, ela não enquadra as novas experiências em expectativas ditadas por experiências prévias. Neste sentido, ela é pobre: recebe de mãos abertas o que vem. Para ela, é normal não saber. E assim, ela é completa, é dada, ela mergulha no novo.
Um adulto, quando se diverte, quer logo fotografar, porque quer se apropriar daquele momento. Ele contamina o presente com um futuro imaginado, e com um passado lembrado e que termina servindo de critério para a apreciação do agora. Isso tudo impede a totalidade, a espontaneidade, a naturalidade. A felicidade não é algo que se controla; ela não é um objeto que se pode visar. Ela é sempre companheira das disposições corretas da alma. Quando estas ocorrem, ela aparece. Acontece que faz parte dessa disposição que a própria felicidade não seja o objeto primeiro a ser buscado. Quando uma pessoa busca a própria felicidade enquanto gozo subjetivo, desprovida do bem do qual ela é acompanhante, esta pessoa a contamina egoisticamente, e a alegria perde o seu frescor, a sua virgindade. Antes de ela chegar, a pessoa já coloca mil e uma condições às quais ela deve se adequar. Acontece que a própria pessoa que coloca estas condições não sabe o que é ser feliz. Logo, ela não tem nenhuma possibilidade de fazer este julgamento, de modo que aquilo que aceite o enquadramento feito não será, por força, felicidade, mas apenas a expectativa do que ela é. E quando o sujeito se depara com a expectativa do que julgava ser felicidade, o seu coração percebe intuitivamente que aquilo é muito pobre, que ainda não é aquilo.
Se a felicidade, então, é algo desconhecido, é preciso arriscar-se, ser um “pirata” existencial. Daí que a felicidade está para além do medo. Quem não vence os medos – que são expressões do próprio egoísmo -, não pode ser feliz. O pecado é fruto do egoísmo, e é expressão do medo, que é fruto da descrença. O pecado é a tentativa de dar a si mesmo o que falta, e esta tentativa só é levada a termo por causa da fraqueza e porque falta Fé.

Todos nós já experimentamos, acredito, momentos em que a felicidade não nos importava, e de repente ela surge, espiritual e selvagem, vindo à gratuidade do nosso coração. Não tentemos detê-la. Ela é como Aslam: não pode ser domada.

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