O que seria morte de egos?

Fábio Andorena perguntou no grupo Alcateia Magna:
“Confrades
Leio todos os textos da página e noto que fala-se muito em “morte de egos”.
O que realmente significa isso?
A grosso modo é bem possível confundir com auto-desvalorização .
como funciona na prática?”

Bom, vamos lá. Vou tomar como ego um dos construtos mentais que formam a psique, determinadas por Freud, pai da psicanálise.

O ego (do latim “eu”) é a manifestação da Vontade, força que Nietzsche fala muito nos seus livros. Segundo Nietzsche, a máxima de Descartes não seria totalmente verdade, mas a VONTADE DE EXISTIR/PENSAR é que caracterizaria a própria existência (ironicamente o mesmo flerta com o niilismo em várias de suas obras). Funciona com base no princípio de realidade, procurando satisfazer o ID (o nosso “instinto”, nosso íntimo, parte mais profunda da psique).

Na minha opinião, O EGO NUNCA MORRE. O que há é uma sublimação efetiva em atos que o indivíduo considera mais profícuo. Dalai Lama então direciona sua vontade para o não querer. Ele se esforça todos os dias, continuamente, para tal. Mas, se você perceber, o mesmo tem um relógio de ouro no braço, por exemplo. Como o mesmo pega desapego e possui um bem de grande estima em sua posse? Normal, são maneiras da mente fugir da constante pressão de NÃO DESEJAR, penso eu.

Nessahan tem uma forte influência oriental, então é normal que se fale na morte do ego. Eu defenderia mais um estado de Mushin (vazio) em vários momentos do dia, mas não a morte propriamente dita. Devemos lutar contra o desejo de excessivamente desejar e contra o desejo de nada desejar – o filme Revolver trata bem sobre isso, é um filme bem subversivo e complexo, recomendo assistir mais de uma vez em momentos distintos da vida. Então ele pensa que para vencer o “jogo dos ratos” simplesmente não se deve jogá-lo. Confortante.

Já eu acho que o jogo dos ratos vale a pena ser jogado para lhe trazer sofrimento. Constante dor. Entenda, eu me moldo através da dor, cada um tem seu método. Mas este é o meu, é o que eu entendo, é o que eu ensino. Se você sempre foge dos eventos que lhe causam dor, você não aprende. Chega um limite que você sempre vai olhar o muro de espinhos e voltar, só porque tocou o dedo no primeiro espinho que encontrou.

A dor de perder, a dor da incerteza, a dor da solidão, a dor do apego, a dor da pressão acerca das coisas da vida… isso está tudo lá, no jogo dos ratos. O que não devemos é achar que o jogo é parâmetro de vida… ele é só um desafio que você escolheu jogar.

O seu emprego não define você, se você escolheu ele por vontade própria e não por preguiça ou choro. Então a partir daí, se você ESCOLHEU ser gari porque NÃO QUER REALMENTE IR PARA UMA FACULDADE OU FAZER QUALQUER OUTRA PROFISSÃO, você não é um derrotado como muitos dizem. Você FEZ sua escolha. Seu dinheiro não define você, apesar do jogo sempre te fazer acreditar que sim. Sim, é meio Tyler isso, é meio Clube da Luta, sim, tem uma ponta de revolta? Não, não tem. É simplesmente a REALIDADE. Nem todo mundo vai ser um cara famoso e NEM PRECISA. Fama não move o mundo. O mundo é movido por pessoas que procuram valores edificantes, que procuram melhorar suas vidas perante o caos da vida e ajudar as outras nesta batalha.

Então você pode até se deliciar com o gozo depois de uma foda com aquela mulher linda que te disse que te amava e que, no fundo, você sabe que foi o amor da sua carteira e do seu carro cheirando a novo. Mas aí você não vai se decepcionar, porque isso tudo você conquistou. O problema que amanhã o dinheiro da sua carteira diminuiu e o seu carro ficará velho e aí você cai no jogo dos ratos, correndo sempre em uma roldana para beneficiar OS OUTROS e, de resto, você ganha momentos rápidos de prazer, como uma gozada. E realmente parece importante, não é? Parabéns, marionete da biologia.

No fim, matar o ego não considero correto, nem alimentá-lo em demasia. Schopenhauer ria da “modéstia”, mas ser modesto não é para os outros, mas para você. Quer dizer que você nunca está satisfeito, sempre quer melhorar. Você é bom? Pode até ser, mas nunca na sua cabeça. Na sua cabeça, você tem um titã para enfrentar e ele sempre está maior não importa quão grande você fique. E é com garra que você vai atrás dele e é com o medo que este titã vai tentar te controlar. E com o ego, com o fato de achar que você já está bom e não precisa mais crescer, que só uma dormida fora de hora vai estar tudo bem, que aquele dia do fds perdido com uma vileira porque tudo que você queria era no final do dia comê-la está tudo bem e que sua busca por matar carências incessamentemente está tudo bem.

E, realmente, para algumas pessoas a vida dá certo. Fico feliz por isso, porque é quando começa a dar errado que elas precisarão da ajuda de pessoas como eu, que sobrevivem na base do sofrimento contínuo. Mesmo nas horas de calma, infelizmente você se acostuma a ficar com o instinto ligado, a qualquer hora tudo pode recomeçar – a batalha de ficar estável, calmo e de continuar seguindo o caminho que escolhi trilhar. Isso é verdadeiramente COMBATER o ego e tentar domá-lo, montar nele e seguir viagem.

Para quê matar seu lobo se você pode ter a companhia dele no seu Caminho?

Sigam firmes.

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